sexta-feira, 29 de janeiro de 2010

Enfim, a seleção!

Hello everybody! Aos 45 do segundo tempo, eis-me aqui. E devo dizer que estou super feliz!
Enviei um conto para a seleção desse mês da Câmara Brasileira de Jovens Escritores, assim como o fez Cris Linardi, e não é que esse conto foi selecionado para ser publicado? Ah, eu não poderia estar mais contente! Portanto, apesar de já ter postado esse conto no Manufatura na minha estreia por lá (aliás, acho que foi isso que me deu sorte), vou colocá-lo aqui também, em comemoração à escolha.

"Rotina"

Sou a moradora do segundo andar, apesar de querer realmente morar no primeiro, de onde a vista é mais privilegiada. Você provavelmente não me conhece, assim como o restante dos meus vizinhos. Eu vivo aqui, só comigo, e não vejo problema algum nisso. Faço o que quero quando quero e ninguém pode controlar minha vida. Pensei em ter um gato, para me fazer companhia, mas acabei concluindo que seria trabalho demais. Estou sempre lendo um bom livro, e eles me garantem a companhia de que preciso. Gosto de ouvir Anita Backer tocando bem baixinho no CD player no final da tarde, quando me sento na varanda, bebo minha dose diária de vodka barata e fico observando o movimento dos moradores, entrando e saindo, vivendo suas vidinhas miseráveis. Alguns são interessantes, como aquele casal do carro branco. Eles saem todos os dias discutindo, e quando voltam pra casa, estão só risos. E eu me pergunto que tipo de rotina doentia é essa. A senhora do terceiro andar também me chama muito a atenção. Ela recebe muitas visitas de técnicos de todas as espécies: encanador, eletricista, aquele que conserta eletrodomésticos, o cara da TV a cabo. Todos eles aparecem com freqüência em sua casa, e ela os trata muito bem. Pelos barulhos estranhos que ouço às vezes, acredito que eles devam prestar muitos serviços a ela. Crianças não me causam curiosidade, por isso não tenho nada para falar delas. Há também um senhor de uns cinqüenta anos, que mora no oitavo andar, que sai todas as manhãs para passear com um poodle horrível e fica me olhando. Outro dia ele piscou pra mim e me mandou um beijo. Pobre homem, ele nem imagina. Os homens não me despertam interesse. Na verdade, eu gostaria de encontrar uma mulher que me fizesse todas aquelas coisas que passam em filmes de lésbicas. Esse é meu verdadeiro sonho, encontrar uma boa amante, para passar as madrugadas comigo fumando um cigarro na varanda e curtindo Sade. Muitas vezes gosto de ficar sentada nas escadas e imaginando o que as pessoas estão fazendo em seus apartamentos, do que elas gostam, o que comem. É uma obsessão estranha, mas sinto prazer em inventar vida para os outros. Numa noite dessas, estava muito quente e decidi ficar nas escadas ouvindo Aretha Franklin no Ipod, com meu copo de vodka e gelo, e ela surgiu. Aquela que eu sempre esperava, a minha amante fantástica. Era morena, de olhar decidido. Ela me pegou pela mão e me levou à loucura. É só o que posso contar, pois os detalhes são íntimos demais, e cabe a você imaginar, assim como eu imagino tudo o que você faz quando fecha sua porta. Você pode até cruzar comigo um dia pelos corredores, mas saberá apenas que sou a moradora do segundo andar.



PS1: também entrei na seleção de poesias, com o poema Lendas, que publiquei no Milonga.

PS2: para quem gosta de escrever e ainda não conhece o Projeto da CBJE, entre no site e participe.

quinta-feira, 28 de janeiro de 2010

Novos Talentos...Ensaio Sobre A Loucura


Como vão vocês? Saudades de todos OS LETREIROS e também dos leitores assíduos do blog. Hoje trago uma coisa diferente, sempre publicamos textos, poemas e matérias nossas aqui. Decidi dar espaço ao trabalho de outros colegas de fora do blog. Publico hoje o texto "Ensaio Sobre A Loucura" de Mari Alves, estudande de Publicidade da PUC Campinas. Esse texto é seu debut como escritora, mas, já nesse seu primeiro momento, mostra muita maturidade e propriedade na maneira em que escreve. Espero que gostem, e como sempre, deem o seu valoroso feedback.

Abraços,



Vincius Fuscaldy



Ensaio Sobre A Loucura (Mari Alves)



Olhar fixo. Pode-se ver claramente as pequenas veias saltadas, os olhos vermelhos e as lágrimas que não cessam nunca. A criatura treme, deitada em posição fetal na cama desfeita há dias, Sim, criatura, afinal quando está naquele estado, não parece gente. Seu corpo se agita, ela se debate na cama, chuta o ar, rasga folhas de papel, faz o que pode para aliviar a tensão, mas nada parece aliviar a dor. Tenta não chorar, realmente tenta, mas a bola que se forma em sua garganta a impede de respirar, seus pulmões perdem a eficácia como numa crise de asma e na tentativa desesperada de buscar o ar abre a boca, nada. Os soluços aumentam, a bola em sua garganta se dilata cada vez mais, pode senti-la também no coração. Que dor, que dor, que mal-estar, que necessidade de fazer tudo aquilo parar, é tão impotente, é tão fraca! Porque não consegue esquecer tudo aquilo? Fecha os olhos e as lembranças não a abandonam. Lembranças da infância, lembranças de agora. “Porque ele me deixou? Por que ele se foi? Porque não volta? Porque mentiu? Eu o amo tanto...”. Aquelas frases não a deixam em paz, ficam se repetindo, e repetindo... Bota as mãos na cabeça, fecha os olhos violentamente. Sentada na cama ela balança o corpo para frente e para trás, respira fundo, quer esquecer. Da janela ela olha para o céu e sorri com as memórias de uma época feliz. “Eu era feliz, eu fui feliz naquele momento, eu fui!” O choro é tão forte, tão intenso, tão sofrido... Olha para baixo, não é tão alto, será que bastaria para fazer tudo acabar? Projeta o corpo para fora da janela, sente o vento secando suas lágrimas que descem pelo rosto. Não, não tem coragem, tentou por várias vezes, mas não consegue. Diante de sua fraqueza, é engolida pelo passado.
Foi sempre sozinha... Uma criança tão linda, tão saudável, porque haveriam de ter a coragem de largá-la? Entendia que seus pais precisavam trabalhar para sustentá-la e a seus irmãos, entendia que vieram de uma família simples e que provavelmente desejavam dar aos filhos todo o conforto que não puderam ter, entendia tudo isso, mas tudo que desejava era carinho. Sua verdadeira mãe era sua avó, aquela doce senhora que cuidava dela todos os dias, como a amava e era amada! Odiava os dias em que aquele rato, aquele demônio saía pelo portão e voltava bêbado, cambaleando e infelizmente se lembra até hoje das maldades que ele fazia para sua querida avó... “Eu te odeio, eu quero você morto! Se eu pudesse mataria você com minhas próprias mãos!” De fato, palavras e sentimentos pesados para uma garotinha de cinco anos.
Nunca suportou a dor de ser abandonada. Foi crescendo independente, confinada entre as paredes do seu quarto, sozinha durante os dias, isolada. Tinha muito tempo para si mesma, tinha muito tempo para desenvolver coisas boas e ruins. Agora era mais dura com seus sentimentos, negava a falta que sentia dos pais que continuavam em sua rotina atribulada, negava a falta que sentia de um colo, de um carinho, de um simples “Eu te amo”. Fazia anos que não dizia ou ouvia aquela frase tão bonita. Durante a adolescência, escondia-se atrás de um coração de pedra. “Não amo ninguém, não me envolvo com ninguém”, era incrível como se sentia bem e protegida com aquele escudo.
Ela volta a si. Seu coração está disparado, cada vez mais seu corpo se balança na cama. “Porque ele tinha que aparecer e destruir minha vida? Estava tudo tão bem, eu não precisava sofrer mais!” Foi o amor. Sim, ela amou, amou muito e continua amando. Aquele rapaz conquistou seu coração, a fez esquecer-se de quem ela havia se tornado, ela abandonou seu escudo, cedeu. Foi o ano mais feliz de sua vida, apesar de toda a distância. Ele era seu porto seguro, estava sempre ali para apoiá-la quando a angústia de não poder estar junto de seu amado a fazia chorar. “Eu te amo”, ele dizia através da tela do computador. Ela sorria, estava feliz, ele nunca a abandonaria! Faziam planos para se encontrarem e viverem juntos. Tinha vontade de ir ao encontro de seu amor, mas seus pais não sabiam de nada. “Você está louca? Não pode sair daqui e ir para outro estado atrás de alguém que você nem sabe quem é!”, eles diriam. Chorava, chorava todos os dias. Os dois consolavam-se como podiam. “Promete que nunca vai me abandonar?” “Prometo meu amor, nunca vou te abandonar!”. Os meses se passaram, chegou o novo ano e ela estava viciada. Jamais poderia viver sem ele, jamais! Fazia planos futuros, casamentos, filhos... Ria muito de si mesma. “Nunca pensei que fosse amar alguém, havia decidido que nunca me casaria ou teria filhos!”.
Mas daí veio a bomba. “Sinto, mas não podemos mais continuar. Meu amor por você é verdadeiro, porém muitas coisas aconteceram em minha vida e devo partir para longe, não voltarei nunca. Quero que saiba que te amo, que sempre amei, e você foi tudo que eu esperei ter durante a minha vida. Te liberto agora, quero que viva sua vida, que seja muito feliz com quem te merece, pois este não sou eu. Adeus.” Ela implorou para que ele ficasse, não teve acordo. Descobriu depois que uma outra moça levava o filho do seu amado no ventre e que este se sentia na obrigação de formar uma família em outro país. Chorou, chorou a noite toda, chorou o dia todo em que não se levantou para nada da cama. Estava em estado de choque. Os meses das férias escolares se arrastaram cheios de depressão, de tristeza. Os amigos diziam para esquecer, não os culpava, tinha certeza que não a entendiam, afinal os detalhes de seu delírio ela escondia dentro de si, sua alma era sua própria caixinha de lembranças. Bebia todas as noites para tentar dormir e quando conseguia, era um sono pesado, cheio de sonhos com seu amado. Ah, como doía! Não tinha vontade de sair de casa, dispensava ligações. Percebia que jamais deveria ter abandonado a segurança que a falsa personalidade adquirida antes daquele acontecimento lhe oferecia, mas não conseguia mais voltar, aprendera do modo mais difícil a verdade do amor.
Sabia que não estava bem, que nunca estivera bem. Sabia que toda aquela depressão, que aquelas vozes e pensamentos estavam ficando cada vez mais fortes. Tinha que ser falsa todos os dias. Mentir para a família, mentir para os amigos, mentir para si mesma. “Eu estou bem” dizia em frente ao espelho dando um sorriso forçado. “Se eles souberem, vão querer me levar até um psicólogo ou psiquiatra, eu não quero! Eu devo vencer isso sozinha, eu devo proteger todos a minha volta dessa decepção!”
Ela estava sempre ali, deitada em sua cama, olhar fixo no nada. Seu corpo tremia, não conseguia respirar. Chorava e seus soluços eram altos e constantes. Gritava. Derrubava os objetos do quarto, se levantava e girava olhando para o teto. Se jogava no chão, abraçava o próprio corpo, o rosto lavado em lágrimas. Debatia-se, balbuciava palavras desconexas para ninguém. Arranhava o peito, queria que aquela dor no coração parasse. Apertava a garganta, precisava de ajuda, bebia.
A dor nunca deixou a bela garota, talvez nunca deixe. Até hoje ela tem seus ataques de loucura, é quase como uma convulsão. Continua repetindo frases soltas.


“As paredes sabem de tudo”


fonte foto: Floquinhos de Algodão Blog

sexta-feira, 22 de janeiro de 2010

Agosto - dele

Será muita pretensão minha achar que todos se lembram que, há duas semanas, publiquei um pequeno conto aqui, chamado "Agosto"? Bem, para quem não leu, ainda há tempo, e para quem leu, deve saber que eu prometi escrever a segunda parte, ou melhor, o outro lado da história. Eis que o conto ficou pronto, e o menino tem a oportunidade de contar a versão dele:

Agosto - dele

Ela sempre dizia que eu era bonzinho demais, que devia relaxar e aproveitar mais a vida, mas nunca me dizia como fazer isso. Também me achava anti-social. Eu ficava nervoso quando ela estava por perto, mas sentia muito a sua falta quando não estava, e por isso me alegrava tanto quando ela me ligava. Eu sempre queria sentar em algum lugar e conversar, e ela sempre topava. Eu sabia que com ela podia falar sobre tudo, até sobre as mulheres bonitas que passavam por nós. Ela fazia uma cara estranha, não sei por que, mas não reclamava de nada. Não sei se eu estava doente, com febre ou alguma coisa assim, mas eu sentia meu rosto queimar mesmo estando numa noite fria e com vento forte. E quando fazia silêncio e eu não sabia o que ela estava pensando, ela me olhava, abria a boca, parecia que ia falar alguma coisa, mas não falava nada. E eu perguntava o que era e ela sempre dizia que não era importante, que era melhor eu não saber, e que ela estava ficando louca. Eu sempre soube o que ela queria, mas não aceitava e não sabia como dizer. Eu gostava de olhar em seus olhos coloridos e imaginar as coisas que eu poderia viver com ela... parecia que ela podia enxergar minha alma quando me olhava daquele jeito. Gostava de suas músicas, mas reclamava, gostava de seu cheiro de pecado, de como sua língua tocava os dentes quando ela sorria, e seu sorriso era tão fácil, tão radiante! (e eu me lembrava disso o tempo todo!) Eu a considerava uma amiga, ela via em mim esperança... se ao menos eu pudesse dizer... eu deveria ter dito... Sentia sua falta, e ligava. Ela me chamava, eu ia. Deixei que ela pegasse meu braço e foi bom, foi natural. Me lembro de cada pedaço de chocolate e de cada dia chuvoso, mas não tinha certeza se ela também se lembraria. Ela me contava de sonhos, me mandava mensagens, dizia que queria escrever um livro. Eu não podia resistir quando ela despertava o pior em mim, como quando me mandou aquela música da Badu que dizia: "and she says she needs more than a friend, that's all I ever been... well one day you gon' overstand yo... and I remember the first time that we met you, how could I forget...". E eu que nem sabia que podia sentir tantas coisas ao mesmo tempo! Se ela tivesse insistido só um pouco mais... se ela realmente tivesse batido à minha porta... mas eu falei pra ela nunca esperar nada. Acho que ela deve ter desistido de verdade quando eu cantei: "This means nothing to me, cos you are nothing to me...". Nós caminhamos juntos, é verdade, e agora eu passo pelos lugares onde estivemos, e tudo parece sem cor e sem som... os sonso dela. E não consigo parar de ouvir a voz rouca de Axl Rose gritando: "I don't have plans and schemes, and I don't have hopes and dreams... I don't have anything, since I don't have you...".


PS1: no blog Ideias Absurdas estou postando um conto, em capítulos, chamado "Observando Luísa". Para aqueles que ficarem curiosos, passem por lá. E, atendendo à pedidos (da Marina, rsss), a história não vai terminar no capítulo 5, como eu havia planejado.


PS2: sábado, dia 23, vou fazer minha estreia em mais um blog compartilhado: Manufatura . Apareçam! Comentem!



terça-feira, 19 de janeiro de 2010

O poeta está vivo

O título "poeta" é algo que poucos artistas da música tem a honra de receber da crítica e do público. Porém, indiscutivelmente Cazuza desfila entre os primeiros da lista dos maiores poetas do rock nacional.
Com letras belas, originais e expressivas, deixou um legado de centenas de músicas que ainda hoje são regravadas por váriod interpretes, 19 anos após sua morte. Dentre seus maiores sucessos estão Ideologia, Exagerado, O Tempo Não Pára e Codinome Beija-Flor, sendo que algumas destas vieram do sucesso alcançado junto com a banda Barão Vermelho, onde era o vocalista antes de optar pela carreira solo: "Eu tenho um ego muito grande, não conseguiria dividir um palco ou um disco"
Cazuza foi ícone da rebeldia da juventude dos anos 80 (quando eu ainda nem era nascida), colocou a 'boca no trombone' sem medo pra dizer o que pensava. Lutou públicamente contra a AIDS, doença que o matou em 1990.
Felizmente, a herança cultural e artística que deixou, permanece intacta e somente devido a isso, pude ter o prazer de conhecer o furacão Cazuza, que partiu logo, mas fez um tremendo estrago, no bom sentido.
Como já disse seu grande parceiro e amigo Ferjat, no título de uma canção "o poeta está vivo".

Livros:
Cazuza - Preciso dizer que te amo
Cazuza - Só as mães são felizes
Ambos de Lucinha Araújo (mãe do cantor) e Regina Echeverria. Ed. Globo

DVD:
Cazuza - O Tempo Não Pára
Direção de Sandra Werneck e Walter Carvalho
Columbia Tristar Films

Site:
www.cazuza.com.br
História, discografia, videos e depoimentos do própio Cazuza.



Boa noite e até a próxima! Viva o Cazuza! \o/

domingo, 17 de janeiro de 2010

Lágrimas de Dragão [episódio 3]


Olá pessoal, estamos aqui novamente no domingo para postar mais um episódio da novela. Semana passada furei com vocês por conta de uma viagem e compromissos pessoais. Isso raramete tornará a acontecer.
A história agora começa a tomar novos rumos, mais personagens e muito mais misterios. Espero que continuem gostando e dando o seu feedback.

Obrigado,


Vinicius Fuscaldy


Lágrimas de Dragão [episódio 3]


Naquela tarde de domingo, não era somente o professor Josh que sofria com os estranhos sintomas. A jovem professora de língua inglesa Agatha, também teve uma péssima noite, na verdade nos últimos tempos ela sofre de pesadelos, febres noturnas e outros distúrbios do sono. Assim como seu colega de trabalho, ela procurou médicos e alguns deles especialistas em tais problemas. Mas o resultado não convenceu a jovem, pois nos exames indicava que estava tudo bem com a saúde da moça.

Não satisfeita, ela que era muito ligada a espiritualidade e coisas do gênero, foi procurar uma cartomante. O “consultório” da vidente ficava em um bairro no subúrbio afastado da cidade. Ela chega de manhã bem cedo a casa. Na mesa da consulente:

__Sente-se minha filha. -diz a senhora enquanto acende o incenso.

__Vejo muita angústia em seus olhos, está preocupada com a sua saúde.

__Como a senhora sabe? –espanta-se a moça enquanto toma acento.

__Bom, conte para mim o baralho em cruz.

__Ok. –ela segue a recomendação.

__Bom, realmente você está passando por uma grande mudança em sua vida.

__Como assim?

__Minha filha é como você fosse uma lagarta e estivesse prestes a romper seu casulo e transformar em uma linda borboleta. Pelo que vejo aqui, você logo-logo vai extravasar sua essência interior e sofrer uma mudança radical na sua vida.

__Mudança Madame, como assim?

__Digamos que vai finalmente se revelar e se descobrir ao mesmo tempo.

__Nossa! E dá para saber como e quando será isso?

__Em breve, muito em breve! E isto tudo está ligado a uma grande missão que você irá cumprir.

__Missão?!

__Exatamente. E vejo também um homem, que vai estar ao seu lado para cumprir essa missão. Em breve ele se revelará também.

__Estou tão confusa, precisava de mais detalhes. Tem essa história da minha saúde também.

__Isso tudo que anda lhe acontecendo é só para lhe preparar para tudo que está por vir. Será grandioso minha querida!

__E que tipo de missão é essa, quem é esse homem?

__Alguém que estará ao seu lado em todo esse processo, vocês se descobrirão juntos, lutarão juntos, se amarão e por fim, talvez, padeçam juntos.

__Ai Madame, agora a senhora está começando a me assustar!

__Não se assuste minha filha, são os desígnios do destino, você não pode mudar jamais o que o universo lhe preparou.

__Você tem algo no seu karma de proporções grandiosas, talvez faça algo que pode mudar o destino da humanidade. Você tem um sangue místico ancestral, um sangue de bruxa ou cigana, não sei ao certo. Só sei que é algo muito forte.

__E como será este encontro, com esse homem?

__ Você já o conhece, ele está muito próximo de você, só resta agora notá-lo.

__Nossa, estou cada vez mais confusa, não faço idéia de quem seja.

__Bom, não se preocupe, as coisa irão acontecer em seu tempo, já está tudo tramado. Quando menos esperar, ele se revela.

__Mas e minha saúde?

__Já disse para não se preocupar, tudo faz parte desse processo de transformação pelo qual está passando, logo tudo se resolve.

__Terá algum tipo de sinal, quando isso acontecer?
__Paciência, já falei que você sentirá dentro de você a hora certa de cada evento.

__Ok, muito obrigada!

__Não tem de quê. Ah e mais uma coisa.

__Sim Madame.

__Acerte a consulta na saída com minha secretária.



Continua...


fonte foto : A Torre do Mago

sexta-feira, 15 de janeiro de 2010

Não falo como você fala mas vejo bem o que você me diz...


Essa semana não rendeu. Não escrevi nada que tinha planejado escrever, minha cabeça está fervilhando de ideias e meus blogs estão abandonados... Fazer o que? É a vida, e infelizmente não posso (ainda) me dedicar plenamente ao trabalho literário, devido às multi-funções exercidas por esta que vos escreve, como faz toda mulher moderna. E pensando assim me lembrei da música "Leila", da Legião Urbana, que fala do dia-a-dia de uma mulher forte e determinada, mostrando seus anseios e seus pequenos medos ante os desafios. Para quem não conhece a música e quer ouvi-la clique aqui .

Como a Legião faz parte da minha vida desde muito, comecei a pensar em algumas músicas dos caras e na importância delas em certos momentos. Por exemplo, meu álbum preferido da banda é “As Quatro Estações” (1989), seguido de “V” (1991). Em algumas entrevistas Renato Russo afirma que ambos são álbuns muito depressivos e com letras complicadas, porém foi no primeiro que ele falou abertamente pela primeira vez sobre sua orientação sexual em “Meninos e Meninas”, um grande hit do disco que também tem como carro-chefe a balada “Pais e Filhos” que estourou nas rádios de todo o Brasil e até hoje é considerada como o hino de uma geração. Na minha opinião, a melhor de “As Quatro Estações” é “Eu Era Um Lobisomem Juvenil” com sua letra forte carregada de metáforas e ironias à realidade vivida pelo povo brasileiro, como por exemplo no verso: “... se o mundo é mesmo parecido com o que vejo, prefiro acreditar no mundo do meu jeito...”. Desde a primeira vez que ouvi essa música fiquei deslumbrada com a capacidade de Renato de expressar seus sentimentos de forma tão poética. Em “1965 (Duas Tribos)” podemos ouvir outro primor de criação, tanto em letra quanto em melodia. Já no álbum “V” estão algumas das músicas mais tristes e reflexivas da banda, o que fez com que o disco fosse considerado pelos fãs mais fervorosos como o melhor da Legião. Traz faixas intermináveis como “Metal Contra As Nuvens” com seus mais de 11 minutos de duração e uma letra profundamente melancólica e cheia de referências à vários assuntos, como por exemplo no verso “... sou metal, raio, relâmpago, trovão, sou metal, quem sabe o sopro do dragão...”, onde o sopro do dragão faz referência à Santa Inquisição. Só mesmo um gênio maluco como Renato para fazer esse tipo de analogia. O Wikipédia diz sobre a música: “diferentemente dos padrões de música seguidos pela Legião Urbana, Metal Contra as Nuvens tem uma variação melódica muito grande. O seu início calmo é seguido por um meio de muita guitarra e bateria, sucedido por um final mais doce, igual ao do início. É uma das poucas músicas da banda que possui um refrão.” Um verso interessante desta mesma música refere-se à era Collor: “... existem os tolos e existe um ladrão, e há quem se alimente do que é roubo, mas vou guardar o meu tesouro, caso você esteja mentindo...”, época em que os direitos autorais das canções ficaram presos e a Legião ficou muito tempo sem receber nada por seu trabalho. Este álbum também traz “A Montanha Mágica” (para mim uma pessoa só é capaz de escrever tal letra estando totalmente drogada, mas ela é perfeita) que faz clara referência às drogas no refrão: “minha papoula da Índia, minha flor da Tailândia, és o que tenho de suave, e me fazes tão mal...” mas também tem os versos encantadores:

"para que servem os anjos?
a felicidade mora aqui comigo
até segunda ordem
um outro agora vive minha vida
sei o que ele sonha, pensa e sente
não é coincidência a minha indiferença
sou uma cópia do que faço
o que temos é o que nos resta
e estamos querendo demais..."

Outras do disco: “O Teatro Dos Vampiros” (que posteriormente, durante a gravação do “Acústico MTV” Renato admitiu que essa era uma música que deveria falar sobre a TV) e a balada “Vento No Litoral”, capaz de levar qualquer um às lágrimas, por ser tão carregada de sofrimento e sentimento de perda. Mas a minha preferida deste álbum é sem dúvida “Sereníssima”, que merece ter a letra postada aqui:


Sou um animal sentimental
Me apego facilmente ao que desperta o meu desejo
Tente me obrigar a fazer o que não quero
E você vai logo ver o que acontece

Acho que entendo o que você quis me dizer
Mas existem outras coisas

Consegui meu equilíbrio cortejando a insanidade,
Tudo está perdido mas existem possibilidades,
Tínhamos a idéia mas você mudou os planos
Tínhamos um plano, você mudou de idéia
Já passou, já passou - quem sabe outro dia.

Antes eu sonhava, agora já não durmo
Quando foi que competimos pela primeira vez?
O que ninguém percebe é o que todo mundo sabe
Não entendo terrorismo, falávamos de amizade.

Não estou mais interessado no que sinto
Não acredito em nada além do que duvido
Você espera respostas que eu não tenho
Mas não vou brigar por causa disso

Até penso duas vezes se você quiser ficar.

Minha laranjeira verde, porque está tão prateada?
Foi da lua desta noite, do sereno da madrugada
Tenho um sorriso bobo, parecido com soluço
Enquanto o caos segue em frente
Com toda a calma do mundo.


Após os dois álbuns citados acima, eles ainda gravaram “O Descobrimento Do Brasil” (1993) e “A Tempestade” (1996), último disco a ser lançado antes da morte de Renato, em outubro do mesmo ano. O lançamento do álbum foi discreto, mas isso não faz com que suas músicas sejam menos interessantes. É que nessa época Renato estava muito doente, e eles preferiram fazer algo mais tranquilo. As músicas de “A Tempestade” trazem um tom melancólico e uma voz já um tanto quanto prejudicada pela doença do cantor. A música “Mil Pedaços”, assim como foi anteriormente “Vento No Litoral”, é uma balada triste e muito sentimental, acompanhando todo o conteúdo do álbum, carregado de canções introspectivas e que falam muito de perda. Destaques também para “Longe Do Meu Lado”, “1º De Julho” (que, apesar de ter sido escrita e gravada anteriormente por Cássia Eller, ficou muito melhor na voz de Renato) e “Soul Parsifal”, uma parceria inédita do Trovador Solitário com Marisa Monte, perfeita. Tem uma melodia que acalma e uma letra extremamente sútil,  confira:


Ninguém vai me dizer o que sentir
Meu coração está disperso
É sereno o nosso amor
E santo este lugar

Nos tempos de tristeza
Tive o tanto que era bom
Eu tive o teu veneno
E o sopro leve do luar

Porque foi calma a tempestade
E tua lembrança, a estrela a me guiar
Da alfazema fiz um bordado
Vem, meu amor. É hora de acordar

Tenho anis, tenho hortelã
Tenho um cesto de flores
Eu tenho um jardim e uma canção

Vivo feliz, tenho amor
Eu tenho desejo e um coração
Tenho coragem e sei quem eu sou
Eu tenho um segredo e uma oração

Vê que a minha força é quase santa
Como foi santo o meu penar
Pecado é provocar desejo e depois renunciar

Estive cansado
Meu orgulho me deixou cansado
Meu egoísmo me deixou cansado
Minha vaidade me deixou cansado

Não falo pelos outros
Só falo por mim
Ninguém vai me dizer o que sentir

Tenho jasmim, tenho hortelã
Eu tenho um anjo, eu tenho uma irmã
Com a saudade teci uma prece
E preparei erva-cidreira no café da manhã

Ninguém vai me dizer o que sentir
Eu, eu vou cantar uma canção pra mim


Infelizmente, Renato Russo não resistiu à doença e faleceu no dia 11 de outubro de 1996, deixando órfãos seus milhares de fãs, inclusive aqueles que ainda não haviam nascido e mesmo assim aprenderam a amar suas músicas. O que só prova que o cara era bom mesmo. Não, ele não era bom, ele era perfeito, acompanhado de Bonfá e Dado, não menos importantes. Após a sua morte ainda foi lançado o álbum “Uma outra estação” (1997), com músicas inéditas que foram escritas para “A Tempestade” mas acabaram ficando de fora, e mais e mais coletâneas de todos os tipos e para todos os gostos. Renato também teve dois discos solos: “The Stonewall Celebration Concert” (1994) em Inglês, para ajudar a campanha do sociólogo Betinho, e “Equilíbrio Distante” (1995), em um Italiano perfeito e de dar inveja a qualquer um. No primeiro ele fez versões de grandes sucessos da música mundial, inclusive de “Cherish” da rainha Madonna, que ficou ainda melhor que a original, tocada apenas no violão. Para quem quiser ouça aqui . No segundo podemos ouvir verdadeiras maravilhas musicais na voz rouca de Renato: “Strani amori”, ”Scrivimi”, “La solitudine” (sim, é aquela da Laura Pauisni), e a melhor do disco “Lettera”, quase uma declaração de amor. Confira aqui .

Para encerrar o assunto, preciso dizer que eu tive o privilégio de crescer ouvindo Legião e ainda, de ir a um show deles, um ano antes da morte de Renato, dia 21 de maio de 1995 no Ginásio de Esportes de Valinhos (SP), show que aliás, quase foi cancelado em cima da hora devido à falta de segurança do lugar. Mas o grupo se reuniu horas antes, na piscina do Hotel The Royal Palm Plaza e decidiu fazer o espetáculo. Nem preciso dizer que foi o máximo, com as músicas do álbum “O Descobrimento do Brasil”, além dos maiores sucessos do grupo, numa noite inspiradíssima. Infelizmente, não tenho nenhuma foto para registrar esse momento, mas ele está mais que registrado na minha memória.

Como não posso comentar sobre todas as músicas da Legião, devo fazer menção às maravilhosas “Faroeste Caboclo”, que já me fez ficar um dia inteiro com o toca-fitas ligado escrevendo a letra, numa época deveras distante... “Baader-Meinhof Blues”, “Acrilic on Canvas”, "Eduardo e Mônica", "Música Urbana 2" (que tem o 2 pois o Capital Inicial gravou antes a sua “Música Urbana”), "Andréia Doria" (uma obra poética, sem dúvida: “...às vezes parecia que era só improvisar e o mundo então seria um livro aberto...”), "Índios", "Os Barcos", "La Nuova Gioventú", e "Antes das Seis”, esta do último álbum do grupo.

Para encerrar, abaixo a capa do disco “O Descobrimento Do Brasil” que é quase uma obra de arte, retratando magistralmente o conteúdo precioso do álbum:




PS1: durante muito tempo causei a inveja da minha comadre Juliana por ter ido ao show da Legião, mas agora sempre que pode ela me devolve a gentileza dizendo que já foi ao show do U2 e eu não... mas ela não perde por esperar, rsss.

PS2: e como já disse nosso estimado Gilberto Gil: "... pense no Haiti, reze pelo Haiti... ". Se não puder fazer outra coisa para ajudar, faça pelo menos isso.




fontes consultadas:
Wikipedia
Vagalume
gfelsberg.blogspot.com
bandascompletas.files.wordpress.com

fotos:
4.bp.blogspot.com
bandascompletas.files.wordpress.com


quinta-feira, 14 de janeiro de 2010

Vidas Desencontradas


Mais uma quinta-feira. Continuando a minha série de contos inéditos, publico mais um para a apreciação de vocês. Este conto de hoje, tem um jeitinho de novela das oito (rsrs), espero que gostem.





Obrigado,


Vinicius Fuscaldy



Vidas Desencontradas



De manhã logo cedinho, Zequinha descia a ladeira em que morava, pra ir a feira. Vendia legumes verduras e todo tipo de ervas e folhas frescas. Trabalhava para o seu Malaquias, um homem severo, porém de bom coração que se compadeceu da situação do menino, um órfão de pai, a mãe costureira, Maria do Céu, mãe solteira aos 16 anos de idade.
_Vamos logo Zequinha! Gritava Malaquias do pé do morro com a carreta ligada, cheia de leguminosas e frutas.
_Já to descendo seu Malaquias. A sua benção minha mãe! E descia o moleque todo desengonçado.
_Deus te abençoe meu filho, sussurrava Maria do Céu, enquanto via Zequinha entrar na carreta com Malaquias e ganhar a rua.
Maria era uma mulher batalhadora e apesar de sua pouca idade, adquiriu responsabilidade muito cedo. Criava Zeca sozinha, costurava, e ainda quando necessário fazia umas faxinas por fora para garantir que nada faltasse ao seu filho. Maria terminou uma costura e resolveu ir ao mercado comprar algo pro almoço. No caminho de volta ela fica distraída com uma revista de fofocas de novela que havia comprado na banquinha do lado de fora do mercado. Nem percebeu que o sinal estava vermelho para os pedestres. E um carro que vinha em sua direção pega nela em cheio, logo que põe o pé na faixa de pedestres. Voam as compras de Maria por todos os lados e ela bate no pára-brisa do carro, rola por cima do capô e caí em frente a ele.
O povo logo junta pra ver o quê aconteceu. O motorista desce do carro e fica estarrecido.
_Chamem uma ambulância pelo amor de Deus! Grita o homem desesperado.
Logo chega o resgate e Maria é posta dentro da UTI móvel. O homem segue junto de carro para o hospital. Do caminho o homem liga do celular.
_Alô, doutor Antunes? Problemas doutor. Atropelei uma moça. Não, já ta tudo bem acho, to levando ela pro hospital, mantenho o senhor informado.Ok!
Zequinha chega em casa, trazendo alguns legumes e frutas que sobraram da feira.
_Mãe! Cheguei!
_Mãe! Ué, cadê ela?
Ele começa a lavar os legumes e as frutas, quando o telefone toca.
_Alô! É da casa dela sim. O quê? Mas como ela ta moça? Fala pelo amor de Deus. Tá e onde fica isso? Zequinha larga o telefone de qualquer jeito e sai correndo porta afora. Desce a ladeira correndo e gritando:
_Seu Malaquias, acode aqui!
Malaquias sai pela porta de casa:
_O quê foi Zequinha?
_Uma desgraça seu Malaquias, minha mãe tá no hospital, ela foi atropelada, o senhor precisa me levar lá.
_É claro meu filho, vamos lá. Você sabe onde é o hospital?
_Sei sim seu Malaquias.
_Então vamos! E saem os dois no carro de feira.

O celular de Arnaldo, o motorista do doutor Antunes toca de novo:
_Alô, oi doutor. Não, ainda estou sem notícias da moça. O senhor vem pra cá? Mas, doutor não há necessidade! Tudo bem doutor, se o senhor insiste. Fico no aguardo.
_Nossa! O doutor Antunes vai me dar uma baita chamada! Droga, mas o quê que aquela doida tava pensando quando atravessou a rua daquele jeito? Arnaldo vai ao balcão de novo:
_Moça, como está a senhora atropelada? Pergunta ele cutucando a moça pelo braço.
_Senhor, o médico ainda não saiu, portanto não tenho notícias, sente e aguarde!
De repente entram Zequinha e Malaquias desembestados na recepção do hospital. Malaquias chega ao balcão:
_Por favor, queria saber notícias de Maria do Céu da Silva. Diz Malaquias esbaforido.
_É minha mãe moça! Zequinha com os olhos rasos d’água debruça no balcão.
_Ainda não tenho notícias. Diz a recepcionista. Mas, pergunte detalhes a esse moço. Ela aponta para Arnaldo. Ele a trouxe deve saber de algo.
Os dois voltam-se para Arnaldo, quando um senhor alto de cabelos negros, terno e gravata entra no hospital e vai em direção a Arnaldo.
_Como está a moça? Pergunta o doutor Antunes a Arnaldo.
_Ainda não sei doutor!
Antunes vai até o balcão de informações:
_Moça, quem é o responsável por esse hospital?
_É o doutor Silveira do Amaral.
_Diga a ele, por favor, que o doutor Alfredo Barbosa Antunes deseja ver uma paciente recém internada.
_A do atropelamento? Pergunta a atendente. A moça se chama Maria do Céu da Silva.
_Como? Antunes fica perplexo com o nome dito pela moça.
_Maria do Céu da Silva. Repete a moça.
Antunes fica paralisado.
_Algum problema doutor? Pergunta Arnaldo.
_Não tudo bem!
Zequinha então cutuca Arnaldo no braço.
_O quê foi moleque?
_Moço, foi o senhor que atropelou minha mãe?
Antunes se intromete:
_Foi ele sim rapazinho, mas, fique tranqüilo que já estou cuidando de tudo.
_Senhor, pode entrar. Diz a atendente a Antunes.
_Fique tranqüilo que vou ver sua mãe e vai ficar tudo bem.
_Eu quero ir também.
_Calma eu vou lá primeiro e já mando te chamarem, tá bom?
O menino faz que sim com a cabeça. Antunes então faz um carinho na cabeça de Zequinha e entra.
Ele chega no quarto em que está Maria. Respira fundo e entra. Ele olha fixamente para ela, mesmo machucada e tendo passado alguns anos ele a reconhece. Era Céu, seu grande amor de adolescência. Como o destino podia ter tramado tal encontro? Ela percebe o movimento e abre os olhos, fixa as vistas nele e abre a boca:
_Alfredo? É você mesmo? Eu devo ter chegado no céu.
_Calma Céu, não se canse muito. Sou eu sim. Foi meu motorista que te atropelou. Ele senta na beira da cama e começa a acariciar o rosto dela. As lágrimas escorrem dos olhos de ambos.
_Eu tinha tanta coisa pra te dizer, queria te encontrar em outra situação. Diz Maria chorando.
_Eu também Céu, você desapareceu da minha vida de repente, sumiu do mapa e nunca mais ouvi falar de você.
_Seus pais me convenceram que uma menina pobre como eu jamais teria futuro com um rapaz de sua estirpe, e além do mais na situação em que eu estava.
_Que situação?
_Seus pais me ofereceram dinheiro.
_Foi por isso que se foi, por dinheiro? Eu jamais...
_Calma Alfredo! Maria então sente uma pontada no peito.
_Vou chamar o médico.Alguém acuda, enfermeira!
_Alfredo, eu estava grávida e seus pais me deram dinheiro para abortar.
_O quê?
_Mas eu não abortei, meu filho, meu único filho, é seu filho Alfredo.
Ela sente falta de ar e pontadas maiores. Os médicos entram e pedem para Antunes sair.
Alguns minutos depois o médico traz a notícia. Maria do Céu da Silva, 24 anos, estava morta. Deixando seu filho, fruto de seu único amor, José Carlos da Silva, 8 anos, órfão.



fonte foto: Mulher Feliz

terça-feira, 12 de janeiro de 2010

Sugestão -

Esses dias me deparei com um poema muito criativo e muito sugestivo, desde o título até a ultima linha de desenvolvimento e no exato momento pensei em postar aqui para compartilhar com vocês, caros colegas. Espero que gostem!

Embriaga-te - Charles Baudelaire

Devemos andar sempre bêbados.
Tudo se resume nisto: é a única solução.
Para não sentires o tremendo fardo do Tempo que te despedaça os ombros e te verga para a terra, deves embriagar-te sem cessar.
Mas com quê?
Com vinho, com poesia ou com a virtude, a teu gosto.
Mas embriaga-te.
E se alguma vez, nos degraus de um palácio, sobre as verdes ervas duma vala, na solidão morna do teu quarto, tu acordares com a embriaguez já atenuada ou desaparecida, pergunta ao vento, à onda, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que se passou, a tudo o que gemeu, a tudo o que gira, a tudo o que canta, a tudo o que fala, pergunta-lhes que horas são:
"São horas de te embriagares!"
Para não seres como os escravos martirizados do Tempo, embriaga-te, embriaga-te sem cessar!
Com vinho, com poesia, ou com a virtude, a teu gosto.


Grande Abraço! Até a próxima!

sexta-feira, 8 de janeiro de 2010

Agosto

Ah! mais um fim de semana pela frente! Parece que vai ser chuvoso, não sei... mas com sol ou chuva que seja proveitoso para todos. Hoje vou postar aqui um pequeno conto que eu escrevi e que já foi postado no Ideias Absurdas . É uma história de amor mal acabada contada da visão da mulher que a viveu, e eu ainda pretendo escrever a uma segunda parte com a visão dele, o amado. Espero poder postá-la aqui em breve. Ei-lo:







"Agosto"
Eu disse que as boas maneiras não serviam para nada, ele as guardou numa gaveta, jogou fora as chaves, e esqueceu. Me lembro de detalhes simples, como os dedos machucados de tanto morder, sem saber o motivo. Não sei se era minha pele que ardia, ou se a febre me dominava, eu delirava, mas era uma noite fria. A maioria de nossas noites eram frias, muito vento, muito agasalho e tosse. Andamos de braços dados. Eu me lembro que sentados num banco gelado conversamos sobre muitos assuntos, falamos de sonhos, defeitos e qualidades de cada um. Eu queria mostrar minha alma, mas hoje penso que foi melhor assim, ele não estava pronto. A única coisa de que não tenho plena certeza é se chovia... acho que não... mas posso ver com clareza a camisa verde, bermuda, chinelo. Pensei em pedir um cigarro. Pedi. Ele disse que não tinha, mas o amigo podia me dar um. Que loucura, há quanto tempo eu não fumava? Achei melhor continuar assim, abstinência. Ele disse que queria usar drogas, que a vida não presta, que iria a uma rave e tomaria "bala" e dançaria loucamente até se perder de verdade de tudo aquilo que queria esquecer. Falou alguma coisa sobre ser uma folha de couve que vai sendo devorada por um bicho, acho que é isso. Nossas conversas filosóficas duravam quase a noite toda, com todas aquelas pessoas ao nosso redor, mas era fácil falar, era fácil sentir. Eu sei que eu senti demais e que ele falou para não esperar nada... esperar... nunca foi realmente minha intenção. Pedi para ele colocar uma música, qual? Qualquer uma, sei lá: “Time is running out”, ele não conhecia. Tentei explicar por que eu gostava de “Felling good”, mas ele não parou para ouvir - é que no refrão ele canta assim: "is a new dawn, is a new day, is a new life for me, and I'm felling good...". Eu contei pra ele o que sempre quis fazer e ele respondeu que sempre soube, mas a resposta foi silenciosa, ele não queria ou não podia, não sei. No mp3 sempre uma trilha sonora para cantar com ele, e o canto dele era lindo. Ele cantou “Shiver” quando meu coração parou. Ele disse que eu sou chata, que não gosto de nada, mas como saber? Não gosto de música eletrônica, eu sei, mas gosto de tantas outras que nem sei. A noite era fria demais, o vento castigava meus cabelos que batiam em meu rosto violentamente, eu sentia muito frio, queria poder me aquecer ali, e ele só queria ir embora. Ele foi embora, e isso tudo não passou de um desencontro, marcado à caneta vermelha numa folha de meu calendário. As palavras foram cruéis, eu disse que não precisava, mas ele tem uma opinião forte e acha que tudo o que acaba, acaba. Mesmo depois de caminharmos pela mesma calçada, ele foi embora. Depois de tudo, ele foi embora. Eu sabia que ele iria, sempre soube, mas nem sempre o saber torna mais dócil o adeus. A calçada agora cheia de pessoas caminhando, para mim está cheia de buracos.


PS1: se o final de semana realmente for chuvoso, tomara que as pessoas fiquem em casa para acompanhar o blog, rss.

PS2: e se acompanharem este blog, aproveitem e deem uma espiadinha no meu também: Milonga . É isso.


quinta-feira, 7 de janeiro de 2010

Ana e o Mar



E aí pessoal! Mais uma quinta-feira, chuvosa, porém, dia de mais uma publicação minha aqui, no blog que vem se tornando uma febre, Os Letreiros!
Publico hoje um conto que escrevi há algum tempo, inspirado na música homônima de Fernando Anitelli de "O Teatro Mágico". Ha Ha, tinha que ter música no meio? Sim, não vivo sem ela. Espero que gostem, Obrigado!

Vinicius Fuscaldy


Ana e O Mar (baseado na música de Fernando Anitelli)


Todas as Manhãs, lá ia ela, a jovem Ana brincar junto ao mar. Saía de casa bem cedinho, logo de manhã, molhar os pés na primeira onda. Sentia a água morna tocar seus pés e um turbilhão de coisas lhe passavam pelo corpo. Ali junto a ele, o Mar, ela se sentia segura, sentia-se em casa. Encurvava seu corpo um pouco para trás, abria os braços devagar e se entregava ao vento, sentindo sua brisa leve lhe acariciar o rosto, como num afago ou um beijo de bom dia. O sol, começando a despontar no horizonte, parecia lhe avisar que à noite ele seria lua e lua cheia, para poder iluminar Ana, céu e Mar.

E outra manhã chegava, Ana cantarolava ao sair de casa, pegava uma maçã no cesto, maçã esta colhida na tarde anterior por sua mãe, Martha. A mãe da jovem Ana achava estranho a menina não ter amigos, já que na idade dela as meninas já estão até pensando em namorar. Mas Ana sempre dizia à mãe: _Eu aproveito os carinhos do mundo, dos quatro elementos, de tudo, deitada diante do Mar. Ele sim me entende e é meu amigo, me ensina da vida e me dá os melhores conselhos em suas ondas e seu balanço. A mãe por sua vez não se preocupava: _Isso é meninice de Ana, dizer tais coisas, amiga do Mar, onde já se viu!

Certa vez comentou com o Pai de Ana, Seu Mário, um senhor de idade avançada, meio chucro também. Mas, ele não deu muita atenção e ela por sua vez, deixou para lá também.

E os dias se passavam e Ana continuava sua rotina, afinal estava de férias na escola e então dispunha de todo o tempo do mundo. Levava seus livros favoritos e lia em voz alta diante dele, o Mar. E por mais incrível que pareça quando ela lia histórias alegres, de amor, ele, o Mar, ficava calmo, sereno. Quando as histórias eram tristes e trágicas, ele ficava revolto e turbulento. Sempre que ela estava para ir embora uma onda lhe entregava algo, eram sempre as conchas mais belas e nesta tarde a onda trouxe uma ostra com uma pérola enorme dentro. Pareciam ser presentes do Mar para a menina Ana.

Ela chegou em casa toda contente: _Mãe olha só o que ele me deu. Disse Ana entrando correndo dentro de casa.

_Ele quem menina? Disse a mãe enquanto picava cenouras para o jantar.

_Ele mãe, o Mar. Ana abre a ostra e mostra à mãe.

_Nossa senhora menina! Onde conseguiu isto? Disse tomando a ostra da mão de Ana.

_Já disse mãe, o Mar me deu.

_Deixe de tolices Ana, você já não é uma criancinha para estas fantasias bobas. Vou ficar com essa ostra e mostrar a seu pai. E você vá para o quarto e só saia quando o jantar estiver pronto!

_Mas mãe! Diz Ana chorosa.

_Já para o quarto.

Ana aquela noite chorou muito, nem jantar ela quis. Na manhã seguinte seguiu sua rotina, só que na cozinha seu pai a aguardava.

_Ana, precisamos conversar. Diz Mário com o semblante fechado.

_Filha, essas suas histórias de ser amiga do Mar, você não tem mais idade para isso filha, já é praticamente uma moça, logo vai se casar.

_Eu não vou me casar pai.

_Ana, você precisa crescer. E essa ostra que disse ser presente do Mar, com certeza achou na praia e...

_Ele me deu pai! Diz Ana irritada.

_Não fale nesse tom comigo menina. Está bem, você me forçou a fazer isso, está proibida de sair de casa até voltarem às aulas.

_Pai o senhor não pode! Ana começa a chorar.

_Posso sim, eu sou seu pai e enquanto estiver sob meu teto eu mando em você.

_Então eu vou embora!

_E vai morar com o Mar? Diz Mário rindo.

_Vou, lá tenho o céu azul como telhado e a areia como travesseiro, ele me dará seus peixes como jantar.

_Ana, já para o quarto e só saia de lá quando eu mandar.

Naquela semana, Ana não foi nenhum dia ver o Mar e não se falava neste assunto na casa. Ela se portou muito bem diante dos pais, mas, à noite em silêncio, se debulhava em lágrimas de saudade do seu amor. Na manhã seguinte a boa notícia, Ana poderia ir ver o Mar, mas acompanhada de Martha. Elas saíram logo após o café da manhã. O Mar estava calmo, tranqüilo, como se ainda não tivesse acordado. Quando Ana tocou os pés na água, parecia ter acordado o Mar, ela disse baixinho enquanto molhava os lábios com a água salgada: _Voltei meu amor, sentiu saudades? E o mar balançava, parecia estar em festa. Ana então, deita na areia diante dele e a onda vem lhe cobrir de espuma branca. E para o espanto de Martha o mar entrega na areia um baú, que quando Martha abre descobre estar cheio de jóias, pérolas e moedas de ouro.

_Credo em cruz! Diz Martha espantada ao tocar no tesouro.

_É um presente dele para a senhora e o papai, mamãe! Diz Ana sorrindo.

_Devo estar louca! Diz a mãe pondo a mão na cabeça.

_É um presente mamãe, um presente de noivado, ele quer casar comigo.

_Pare Ana, vou chamar seu pai para ele ver isso.Fique aqui e proteja o baú.

_Está bem mamãe.

Enquanto isso Ana sobe na pedra mais alta da praia: _Estou indo meu amor, ninguém mais nos separará. E se arremessa.

Os pais de Ana chegam na praia e a procuram, ficam desesperados. Levam o baú para casa e voltam para procurar a filha na praia. A mãe de Ana avista algo próximo aos destroços de um barco, é o corpo de Ana, roxo, afogado, não há mais nada a ser feito. A mãe de Ana antão toma uma resolução, vai de bote até o meio do mar e joga o corpo dela.

_Não era isso que queria Mar, minha filha com você para sempre? Leve-a, eu abençôo o amor e o casamento de vocês.

Muito tempo depois ainda se ouve falar da história do mar, que apaixonado por uma menina fazia de tudo pelo seu amor e até hoje ainda podemos ver nas noites de luar a figura de uma menina passeando pela praia de vestido de dormir branco brincando com as ondas do Mar. Ana e o Mar, Mar e Ana, histórias que nos contam na cama antes da gente dormir. Todo sopro que apaga uma chama, reacende o que for pra durar.



fonte foto: O Meu Sonho Lindo


P.S: Para quem quiser ouvir a música aí segue o link: O Teatro Mágico - Ana e O Mar


terça-feira, 5 de janeiro de 2010

Violência Verbal

"Eu quero alfinetar os seus ouvidos
Dizendo verdades agressoas
Ferir tua índole com decência
Resultado (tomara!) em noticías promissoras."




Odeio cíumes...

Grande Abraço!

segunda-feira, 4 de janeiro de 2010

Quando a Dor Domina a Alma



Há dias em que preferimos nos enclausurar dentro de nós mesmos pra tentar entender o motivo de sentirmos uma tristeza tão profunda... vasculhamos todas as arestas do coração e o que encontramos? Mágoas, ressentimentos, fatos que deveriam ser esquecidos e insistimos em lembrar... Podem passar anos, festas e continuamos a pensar que nada vai mudar não importa qual caminho escolha e nem quantas vezes tente; sabemos, estamos errados, mas a "droga" do coração não obedece às ordens de ser feliz! A quem recorrer nestas horas escuras e melancólicas? Eu tenho recorrido à caneta e papel! Não sei se algumas pessoas sentem prazer em ficarem tristes, mas sei que o meu coração é teimoso pra isso! E hoje, deixarei aqui uma poesia... porque não tenho mais qualquer palavra que represente melhor, para mim, como são estes dias...




Quando a Dor Domina a Alma




Observando meu abismo infinito, percebo a escuridão que me assola.
A madrugada é meu dia, a noite minha amada.
Vivo suspirando pela morte: a vida mal assombrada,
Na qual encontro os braços da dor que me consola...


Anseio por sua chegada tão repentina.
Tal sentimento percorre minhas veias com ardor,
Aniquilando, em mim, o desejo de ter amor
Desde quando frágil menina.


Se, hoje, o rancor possui meu coração
É por ter visto um espaço apenas seu.
Ser livre, feliz, querida outrora quis eu;
Todavia, notei como tudo é ilusão...


Minh'alma e meu sorriso foram soterrados pelo sofrimento,
Assim como meu amor encarcerado.
Pelo brilho da vida meu espírito tem clamado,
Mas não sou digno de existir, não mereço esse momento.



M. F. Gomes

domingo, 3 de janeiro de 2010

Lágrimas de Dragão [episódio 2]


Mais um domingo preguiçoso, aquele de depois do reveillon. Aproveite essa "preguiçinha" e continue acompanhando nosso blog, pois nós, nem aos domingos descansamos. Publico mais um episódio da novela, que espero eu, seja muita aguardado semanalmente.

Obrigado!

Vinicius Fuscaldy


Lágrimas de Dragão [episódio 2]


No dia seguinte, Josh acorda sobressaltado, teve uma péssima noite. Tudo parecia estranho, o ardor em sua língua parecia mais intenso agora. Dores horríveis nas juntas lhe consumiam. Uma sensação estranha na pele, uma espécie de urticária, ela estava áspera e empelotada.

__Droga! –resmunga o jovem.
__Será que esses médicos estão loucos? Eu estou realmente doente! –tosse enquanto termina de formular a próxima fase.
Um respingo de sua tosse cai sobre o tapete e o derrete fazendo um pequeno buraco.
__Que diabos é isso? –se agacha incrédulo do que acaba de lhe acontecer.
A tv liga sozinha, esqueceu-se que a pôs para despertar naquele horário e toma um susto. Vai até a cozinha em busca de água para lhe aliviar o ardor. Toma um gole enquanto observa o noticiário matinal Parece que nesta noite algumas catástrofes naturais assolaram o mundo. O vulcão Vesúvio na Itália entrou em erupção depois de quase setenta anos. O rompimento da Geleira Beardmore na Antártida. Um terremoto que desencadeou um desmoronamento no monte Kilimanjaro no norte da Tanzânia. Um maremoto no Oceano Índico que ocasionou diversas enchentes desde a Península Arábica até a Indonésia. Uma cheia repentina no lago Ness em plena Escócia, causando uma enchente que inundou a região de Highland. Uma outra cheia no Pantanal Mato-grossense brasileiro, causada pela abertura misteriosa de uma cratera, de onde ocorreu um vazamento do Aqüífero Guarani a maior reserva subterrânea de água doce do mundo. A maior tempestade de areia já registrada no Deserto do Saara. Mais um incêndio espontâneo na costa da Califórnia. Na Austrália, morte em massa de animais às margens do Lago Eyre, aparentemente por envenenamento da água. Um deslizamento devido a uma rachadura no Monte Fuji na Ilha de Honshu, a oeste de Tóquio, no Japão, causando um vazamento de lava vulcânica, mas sem erupção. Outro terremoto no alto do Himalaia em pleno planalto tibetano. E finalmente um deslizamento de terra em Machu Pichu no Peru. Tudo em uma única noite.

__Meu Deus! Eu aqui preocupado com minha saúde e o mundo acabando literalmente lá fora.

A ONU não estava medindo esforços para socorrer os países acometidos pelas tragédias, enviando tropas imediatamente. O exército da salvação e entidades filantrópicas como a Cruz Vermelha já estavam se prontificando também. Mas, a pergunta era: Por que tudo nesta mesma noite?
Os extremistas religiosos já falavam em Apocalipse. Naquela manhã fria de domingo era só o que se comentava nas ruas. Na fila do pão, no posto de gasolina, na banca de jornal.
Josh ainda se sentia muito mal. Preferiu voltar para casa. Costumeiramente de domingo ia à casa de sua mãe almoçar, mas, hoje se encontrava extremamente indisposto e realmente estava estarrecido com tais notícias. Deu um telefonema e avisou que hoje não iria até lá desfrutar do farto almoço. Decide por dormir mais um pouco, tentando distrai-se do mal estar.

__Como estou me sentindo mal! –diz enquanto se revira na cama de um lado ao outro.
Suas dores nas juntas estavam insuportáveis e sua língua parecia querer saltar boca à fora. A pele de Josh estava rubra e quase que escamosa.
__Será que foi algo que comi? Uma intoxicação talvez? Vou tomar um antialérgico.
Caminha até o banheiro e toma duas pílulas do remédio, seus olhos fitam um calmante.
__Acho que vou precisar. –pensa enquanto se apodera de um punhado de cápsulas.
Engole tudo de uma vez com alguns goles de água da torneira. Deita-se novamente. Dessa vez tomba em um sono profundo. Descanso afinal.


Continua...


fonte foto: Caderno de Notas blog

sexta-feira, 1 de janeiro de 2010

Adeus, Ano Velho!



Na sala:
- como se joga 21?
- cada jogador pega duas cartas e soma seus valores, a finalidade é alcançar 21 pontos no total da soma, se faltar você compra mais cartas...
- mas e as figuras, valem quanto?
- valem 10 pontos cada.
- não, valem 11, 12 e 13 pontos, se não, porque teria a carta 10?
- ah não, minha vida toda eu joguei 21 com as figuras valendo 10 pontos...
- mas no 21 profissional é diferente, elas valem 11, 12 e 13...
Na cozinha:
- porque o pudim ficou assim?
- porque eu desenformei quente.
- tem presunto? Tô com fome...
- fecha essa geladeira para não esquentar os refrigerantes!
Na sala:
- hoje em dia não existe mais baralho virgem, porque todos são usados primeiro nos cassinos, depois vem para o consumidor...
Na cozinha:
- o banheiro tá ocupado, eu preciso tomar banho.
- usa o banheiro lá da frente, só que lá não tem luz...
- ah não, lá tem barata e eu tenho muito medo.
- outra noite eu fui lá, mas acendi todas as luzes da casa e fiquei com os pés pra cima...
- kkkkkkkkkkkkkkk
Lá fora:
- quando eu era criança lá no Paraná a gente cortava a cabaça e deixava no quintal, ai os ratos entravam na cabaça e a gente pegava a cabaça e chacoalhava até eles ficarem tontos, pra amansar os bicinhos... ai a gente pegava os ratinhos e brincava o dia inteiro com eles, até o dia que eles acostumaram e não ficaram mais tontos, e a gente foi brincar com eles e um deles mordeu o dedo da minha irmã e a gente teve que sair correndo para minha mãe matar o ratinho e tirar do dedo dela...
No banheiro:
- Mãe!!!!!!!!!!! Cadê minha bermuda nova???????? E a minha toalha????!!!!!!!!????????
- não sei, usa essa mesmo, tá bom!!!!!!
Lá fora:
- ...mas a culpa era do papai, olha só o que ele fazia: ele falou que quem aprendesse a andar de bicicleta ia ganhar uma. Ai tinha um peão do papai que chamava Tatão e tinha uma bicicleta, ele deixava ela lá no paiol. Eu tinha que limpar a casa, lavar a roupa e fazer a comida, fiz tudo rapidinho e peguei aquela bicicleta do Tatão e subi o morro empurrando ela. Cheguei lá em cima, montei na bicicleta e desci o morro muito rápido, achando que já tava boa pra guiar a bicicleta, ai eu subi de novo e desci o morro mais rápido ainda, chegando lá embaixo eu perdi o controle e dei bem no meio do tanque. A bicicleta voou longe. Quando eu consegui levantar sentindo muita muita muita dor na perna, eu vi que a roda da bicicleta tinha virado um oito, devolvi ela no paiol e corri pra debaixo da casa. Quando o Tatão chegou e viu a bicicleta daquele jeito ele começou a chorar... e o papai gritava: - cadê Marlene??? E quanto mais ele me procurava, mais o Tatão chorava e mais eu ria...
Na sala:
“I don´t care if monday´s blue
Tuesday´s grey and Wednesday too
Thursday I don´t care about you
It´s Friday I´m in love…”
Na cozinha:
- gente, falta meia-hora, vamos arrumar a mesa!
Lá fora:
- meu pai uma vez matou uma porca com uma porretada; ele viu a porca comendo um pintinho e deu uma paulada no focinho da porca, ela foi tremendo assim... até morrer...
- coitada!
- é, mas a gente era muito ignorante. Uma vez, uma vaca nossa morreu de sede...
No banheiro:
- Amor!!!!!!!! Posso pegar qualquer toalha?????????
- Não!!!!!!!!! Eu pego uma pra você no armário!!!!!!!!!!
Na sala:
- gente, faltam 20 minutos! Acorda a Amanda lá!!!!!!!!!
Na cozinha:
- pô mãe... eu esqueci minha escova de dentes no trabalho...
- não tem problema filho, tem uma que era da vó aí, pode usar essa mesmo...
- kkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkkk
Na sala:
- gente, a lua lá fora tá maravilhosa!
- faltam 5 minutos!
No quarto:
- Amanda, já estão na contagem regressiva, levanta!
Na sala:
- Ju, sai do banheiro!!!!!!!!!!
Lá fora:
- 10, 9, 8, 7, 6, 5, 4, 3, 2, 1!!!!!!!!!!!!!!!!



PS1: qualquer semelhança com a vida real (não) será mera coincidência, rsss.

PS2: como não poderia deixar de ser, vai minha dica musical: vi um vídeo ontem e achei incrível, muito criativo. A música se chama “My drive thru”, com Julian Casablancas (The Strokes) e Pharrel. Para quem se interessar em vê-lo clique aqui

PS3: Feliz 2010 a todos!!!!!